sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Os profissionais liberais saem da faculdade preparados para empreender?

  Divulgação

As faculdades continuam formando profissionais operacionais, que entendem da técnica, mas não sabem como administrar o próprio negócio

Por André Acioli 
 
Globalização, concorrência de onde menos se espera, necessidade de encantar o cliente, velocidade de obsolescência da tecnologia, foco, relacionamento... nós, profissionais liberais que atuamos no mercado, somos engolidos por suas tendências, conceitos e preconceitos. Bem verdade, não se discute a necessidade de adequação do profissional dos dias de hoje às condições requeridas pelo mercado em que está inserido. 

As faculdades continuam formando profissionais operacionais. Eu explico. Excetuando-se uma ou outra carreira numa meia dúzia de instituições, os cursos de graduação disponibilizam ferramentas e conhecimentos para que o novo profissional saiba fazer, executar operacionalmente as tarefas e atividades inerentes ao exercício da carreira escolhida. Assim, advogados entendem da elaboração de petições, dentistas, do manuseio de boticões e brocas, médicos, da identificação de anormalidades no funcionamento orgânico, engenheiros civis, dos recursos e cálculos necessários para sustentação de um prédio – isso só para citar, de forma simplista, alguns exemplos de atividades e de profissionais.

Eis que o novo profissional se vê no mercado. E aí? O que vai fazer? Nem todos tiveram a sorte ou sabedoria de se preparar para esse momento; nem todos quiseram (ou puderam) ser estagiários; muitos preferiram investir na capacitação técnica que seus cursos ofereciam. Um bom número desses novos profissionais, com muito esforço e sacrifícios (nem sempre seus), conseguem capital para abrir o próprio negócio: o consultório, o escritório ou seja lá o que for. Logo na largada deparam-se com os primeiros percalços: como e o que fazer para abrir um espaço de trabalho? Contratam despachantes – categoria profissional que, pelo que sei, só existe aqui no Brasil – e, finalmente, têm seus contratos de locação, alvarás, autorizações, inspeções e tudo o mais necessário para funcionar. Precavidos, possivelmente orientados por um profissional mais experiente, pai ou amigo, reservaram algum recurso para esse momento. 

Telefone funcionando, computador e impressora a postos, mobiliário comprado em suaves prestações, aquela amiga do amigo, ‘gente fina’ e competente, até então desempregada, agora é secretária executiva. Sala pintada e finamente decorada pela mãe ou pela namorada, quando a primeira permite. Nome impresso, na laser do amigo, em cores, quando ainda há a alternativa da jato de tinta de casa. Para atrair compradores de seus serviços, um folheto tamanho 10×15, impresso em quatro cores e gramatura 75; lindo e barato. Um trabalho de primeira, feito pelo primo que tem habilidades incomuns num editor gráfico que o ‘contratante’ sequer sabe o nome.

A primeira semana é intensa; as visitas não param. Vem mãe, pai, tios, primos, vizinhos. Os amigos da faculdade também aparecem, esperando a reciprocidade da visita. Clientes? Não, clientes ainda não. E o tempo passa…

Creditando à má sorte a demora na captação, o novo profissional – agora já não tão novo -segue a árdua rotina de empreendedor. Alguns, menos perseverantes, pensam na alternativa de seguir carreira pública e enveredam nos caminhos de cursinhos preparatórios e provas. Outros, mais aguerridos, insistem no ideal de sucesso em carreira solo.

Isso me lembra a história de um amigo que, cansado da insistência da mulher em querer que lhe fosse comprado um carro, foi à concessionária e comprou um zero quilômetro para ela. A esposa ficou radiante com o presente, mas lembrou que não sabia dirigir.

Nossos cursos de graduação fazem mais ou menos isso com seus formandos. Semestre a semestre, dão-lhes partes dos respectivos carros novos para montar, mas não lhes mostram atalhos para aprender a dirigir. Isso, na maior parte das vezes, somente será aprendido em cursos de pós-graduação.

O novo profissional, cedo ou tarde, ‘fará o carro andar’. Serão necessárias muitas ‘barbeiragens’ até que dirija razoavelmente. Terá clientes. Conseguirá até reter alguns; provavelmente, após outras barbeiragens. Longe de qualquer hipocrisia, todos sabemos disso: você, eu e, claro, os gestores universitários.

Ao que parece, a ideia da continuidade presente nas grades curriculares dos cursos de graduação superpõe-se ao ideal de uma formação ideal e submete os ‘novos’ aos mesmos rituais pelos que passaram os ‘antigos’, como que numa sequência infinda de trotes em calouros sendo que, nesse caso, por omissão, são os mestres, os algozes.

Se o amigo leitor é um recém formado ou está no curso dessa peregrinação para o sucesso, permita-me duas dicas: procure em sua rede de relacionamentos (se não tem, comece agora mesmo a construir uma) algum contato que tenha sólidos conhecimentos em marketing. Por favor, não vá aqui, cair na armadilha do “barato que sai caro” e promover alguém inabilitado ao posto. Se não encontrar um bom profissional de marketing na sua rede, contrate. Nessas horas, contratar é uma boa opção, pois favores nunca dão certo!

Se você tem tempo e é daqueles abertos a novos conhecimentos, invista em você. Dispa-se de qualquer preconceito e procure entender melhor como o marketing pode ajudá-lo a chegar aonde você quer. Você pode optar pelos livros (há vários bons livros) ou por cursos de extensão; deixe os de maior duração para quem pretende atuar especificamente nessa área. 

Existem alguns (poucos, mas bons) cursos que atenderão às suas necessidades para alavancar o seu empreendimento. Sem dúvida, de todos os investimentos que você vier a fazer depois de formado, desenvolver o marketing profissional será o melhor. Não hesite, há diversos profissionais que se mostram iguais a você; oferecem serviços iguais aos seus; instalados em espaços similares ao que você ocupa e que buscam o mesmo cliente que você. Sair na frente, então, pode fazer toda a diferença. 

Acorde! 

* André Acioli é administrador, consultor de empresas, professor universitário e do Boteco do Conhecimento

Fonte: Revista PEGN 

Um comentário:

  1. Simplesmente, arrasou, nesse post. Sou professora universitária há 4 anos e sempre estou discutindo isso nas reuniões de conselho. Não só sobre preparar os alunos a empreender, mas a conquistar um lugar no mercado de trabalho. Já realizei um projeto q auxiliava os alunos nesse sentido, através de palestras e plantões.
    Infelizmente a maioria aprende na prática mesmo.
    Abraços!!!

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