quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Vaga para presidente do Brasil (3)

Revista Época Negócios
presidente_1De acordo com uma série proposta aqui neste blog (leia texto anterior), sugiro um exercício de reflexão sobre um processo de seleção para um dos mais importantes cargos do país: o de Presidente.
Nesta fase, nos debruçamos sobre os candidatos. Dentro de uma empresa, após a definição do perfil, fazemos uma busca de possíveis candidatos. Normalmente, são milhares de currículos recebidos. Há um trabalho de filtro grosso e fino, até chegar à fase de entrevistas.

Neste momento, parece que temos os principais candidatos da corrida presidencial definidos. Nesta fase, gostaria de destacar alguns pontos relevantes que se aplicam ao mundo político e corporativo:

1. É preciso ter uma opinião
O processo de escolha de um candidato dependerá efetivamente da sua visão (sua, meu caro leitor) de mundo. Quais são seus valores, o que é importante para você e como esses parâmetros se refletem na conduta de cada candidato? Sinto que há um predomínio do lugar comum, das grandes frases feitas, dos slogans que direcionam comportamentos e procuram reduzir o mundo a sistemas simples de certo e errado.

Não há fórmulas de sucesso, como tenho destacado tantas vezes em nossos textos. Muitas vezes, com medo de um julgamento externo, agimos como manada, na mesma direção adotada pela maioria. Na empresa, por medo de perder um cargo ou de seguir contra a corrente, calamos nossas opiniões. Isso não é bom. Precisamos mergulhar em nossas reflexões, investigar hipóteses, ler e estudar muito.

Formada uma convicção, devemos ser capazes de convencer nossos interlocutores de que aquele é um caminho a ser considerado. Em um post anterior (Argumentar com arte: mais razão e emoção), falamos da importância de defender nossos pontos de vista, falando com pessoas em situações profissionais e pessoais.

Passo por tudo isso porque destaco que, neste caso, qualquer avaliação de candidato dependerá desta visão de mundo. Quando esses conceitos são bem sedimentados, a análise de qualquer situação fica muito clara e não será este blogueiro ou qualquer outro que irá influenciar sua convicção (na empresa ou na vida pública).

2. Um perfil de gestor
Entre os líderes em pesquisas prévias para o pleito, podemos reconhecer dois perfis de candidatos mais gestores. Trata-se de uma situação que se repete no mundo corporativo também. Normalmente, depois de um presidente mais vendedor (normalmente personalidades reconhecidas publicamente, com grandes resultados em marketing e vendas), as organizações contrapõem executivos mais voltados para os temas internos, financeiros e administrativos (muitas vezes de pouca expressão e carisma, mas muito eficientes em operar a máquina).

Como um pêndulo, as empresas intercalam profissionais mais externamente agressivos e inovadores (que avançam sobre o mercado), com perfis mais voltados para a sistematização do processo, eficiência e resultado. Essa pode ser uma resposta para um país que clama por uma administração pública mais eficiente, sem dúvida. Por outro lado, um perfil mais gestor é uma alternativa importante para quem vai ter que substituir um perfil tão específico como o do atual presidente Lula.

3. Se é difícil decidir, use sua intuição
Num processo de seleção, as variáveis propostas nunca cobrem totalmente a realidade da prática profissional. Os candidato usam máscaras que ressaltam as virtudes e escondem os defeitos. A manifestação das vontades de parte a parte muitas vezes reflete o mundo das idéias, mas não encontram reflexo na prática. Em certos casos, o candidato que parecia muito bom, não se concretizou nos primeiros dias de trabalho. Uma grande decepção.

O departamento de Recursos Humanos sempre tem boas ferramentas que ajudam no processo de escolha, dando contornos quantitativos para uma decisão que é, muitas vezes, subjetiva. Nós sempre procuramos trabalhar com iguais (pessoas que pensam e decidem como nós), mas nem sempre isso compõe a equipe mais completa e melhor para se trabalhar. Ter como parâmetros seus valores e princípios é fundamental, mas eu também sempre uso minha intuição para a decisão final. Na maioria das vezes, foi a escolha mais bem sucedida.

4. O exercício profissional e político
Capacidade de relacionamento e de obtenção de resultados conduzindo pessoas é uma exigência no universo corporativo e político. Se essa condição parece não tão nobre nos palácios governamentais, saber fazer concessões e alianças é uma realidade viva dentro das empresas. Não basta ser tecnicamente competente, é preciso demonstrar capacidade de conquistar resultados fazendo a leitura mais adequada do ambiente em que os desafios se desenvolvem e mobilizando os atores da mudança.

Quando alguém escreve uma peça, ele deve cuidar de contar uma boa história para seu público. Mas não é apenas um caso de inspiração. Ele deve cuidar também do palco, da iluminação, do som, dos atores, do figurino e da direção. De todas essas escolhas dependerá o sucesso do espetáculo. Tudo deve ter uma coerência.

Reflita muito sobre a complexidade dessas decisões. Desejo que você faça excelentes escolhas na vida.

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